quinta-feira, 12 de março de 2009

O Sistema Genial (que já nasceu predestinado à falência)




Certo dia, cansado de ter que carregar todos as suas conquistas (vacas, ovelhas, sacos de batata, retalhos de lenha) um homem inteligente decidiu que poderia haver uma forma mais simples e menos trabalhosa, então junto a outros pensadores, criou um objeto que serviria para trocas, como um vale apelidado de "dinheiro". Em vez de levar 4 galinhas e um carneiro para a feira, ele precisava apenas carregar consigo esse vale, que cabia em sua bolsa. Esse cara inteligente infelizmente não durou muito, todos morrem afinal.

Então, algum tempo depois, surgiu um cara, que se achava realmente inteligente, um gênio! A sua idéia era simples: parar de fazer trocas toda hora, acumular até o momento que ele pudesse trocar por tudo que houvesse à sua volta. Outros homens que se achavam tão geniais quanto esse, se uniram nesse propósito.

- Vamos! Acumulem, tudo isso aqui será nosso, faremos o que bem entendermos!

Mas havia um impasse, eles não conseguiriam sobreviver sem fazer trocas; precisavam se alimentar, precisavam de trocas para sobreviver. Então nosso querido gênio teve outra brilhante idéia, explorar alguém que ele julgasse mais fraco. E a ganância e inveja fizeram aqueles outros homens seguirem sua idéia.

- Vamos construir um sistema forte, onde poderemos controlar tudo! – gritou o gênio.
- Mas como? Eles não são tão burros assim!
- Talvez não, mas são gananciosos... vamos emprestar-lhes nosso dinheiro e cobrar uma taxa por isso.

O cara era realmente genial, conseguiu um exercito de devedores e escravos.

Mas o que fazer agora com tanto dinheiro? O gênio se perguntava, até que veio uma luz.

- Já sei! Vamos investir em grupos de pessoas que queiram produzir algo para vender, então ganharemos ainda mais!

Seu plano estava dando certo, agora ele tomava o dinheiro dos explorados, com esse dinheiro investia em produtos para vender para os próprios explorados, que por sua vez compravam, enviando o dinheiro de volta para o gênio.

Mas não era apenas o gênio que estava lucrando com essa manobra, aqueles grupos de pessoas que faziam produtos, formaram companhias e começaram a sua própria exploração.

- Se estamos sendo explorados pelo gênio, vamos explorar também!

Escolheram aquele lindo e indefeso Ipê de flores amarelas e derrubaram.

- Adoro derrubar árvores, elas tremem de medo e não podem revidar! – Gritou mais um seguidor do gênio com seu machado na mão.

- Mais papel para limpar as merdas de nossas bundas e mais dinheiro no meu bolso! – Gritou o dono da empresa, que estava crescendo no ramo de papel higiênico.

A batalha tinha começado: de um lado, homens e suas máquinas (construídas com recursos da natureza com a finalidade de destruí-la); do outro, a natureza “indefesa”.

Rapidamente, as companhias descobriram que precisavam crescer, para isso era necessário explorar mais. E não hesitaram. Foram produzindo objetos, comidas, bebidas, e tudo que não era aproveitado, jogavam de volta à natureza. É como se alguém roubasse seu prato de comida, desfrutasse dele, depois vomitasse em você. Além de continuar com fome, você ia ter que se virar para limpar toda aquela sujeira.


O gênio estava orgulhoso do seu sistema super inteligente: Com dinheiro tirado dos fracos investia em companhias que sugavam o meio ambiente para vender produtos que seriam jogados futuramente de volta à natureza.

O gênio era tão gênial e perdia tempo pensando em tantas formas de ter mais e mais dinheiro que esqueceu de um detalhe, mas seu pequeno filho o lembrou, enquanto tirava uma dúvida sobre o dever de casa:

- Pai, então é através da fotossíntese que as plantas liberam oxigênio?
- Através da onde? Como assim liberam?
- O sol bate nelas, elas pegam o gás carbônico pra elas e soltam oxigênio, ta certo?
- Ahh.. deve ser... Pera aí!!! Esse oxigênio aí é o mesmo que eu preciso respirar?
- Oxigênio só tem um tipo, eu acho.
- Não é possível! Malditas plantas, como eu faço pra não precisar desse oxigênio, meu filho?
- Meu professor disse que sem oxigênio a gente não vive.
- Professor idiota, fala isso porque com aquele salariozinho de merda dele ele não consegue viver...
- O que?
- Nada, nada, aprenda uma coisa, seu professor precisa de oxigênio porque ele não tem dinheiro, se ele fosse rico, não precisaria.
- Ah.. então dá pra comprar oxigênio?
- Deve dar. Dá pra comprar tudo, meu filho.

O filho não duvidou, afinal, seu pai era o gênio, mas o pai ficou pensando sobre essa historia, se frustrou ainda mais depois de ligar para centenas de milhares de companhias e descobrir que oxigênio não estava à venda, as poucas que vendiam oxigênio em tubos, apenas pegavam da natureza e armazenavam, mas não tinham o poder de fabricá-lo.

Preocupado com o futuro de sua respiração, convocou os grandes chefes de industrias e companhias em geral na sua mansão.

- Pessoal, é o seguinte, precisamos deixar um pouco da natureza aí, no lugar dela.
- Hahahaha – todos riram
- O senhor está com um senso de humor hoje.. – falou um dos participantes.
- Não, estou falando serio!
- Achávamos que o senhor era o gênio, como pode falar uma asneira dessas?
- Precisamos de oxigênio para sobreviver! - insistiu.
- Temos o suficiente, o senhor não está vendo porque é invisível.
- Hahahahahaha – outro coro de risadas.
- Mas vai acabar! - falou o gênio.
- Não vai, não! Alias, vai sim, mas não agora.
- Como assim não agora? Ainda demora?
- O suficiente para nós estarmos bem longe daqui!
- Está falando serio?
- Achávamos que o senhor que era o gênio!
- E sou! Vamos comemorar então!

Acenderam a churrasqueira, mataram um animal e comeram o cadáver assado enquanto bebiam, esquecendo do grande mal entendido.

Quando anoiteceu e todos foram embora, o gênio passou algumas horas em sua cama sem conseguir dormir; pensava no grande sistema que ele tinha criado e pensava principalmente em alguma forma de salvar aquele sistema, pois uma hora os recursos naturais iriam acabar, acabando o oxigênio e acabando também a vida.

Depois de muito tempo refletindo pensou em uma solução: todas as companhias deveriam consumir única e exclusivamente os recursos que elas mesmas produzissem e recriassem, deixando assim intacta a natureza e dando continuidade à vida no planeta. Deu uma longa risada com um tom irônico, se acalmou e pensou:

“Que idéia mais absurda! Não posso exigir isso das companhias! Ninguém pode! Elas que mandam! Eu sou um gênio, não posso ter essas idéias idiotas!”.

Puxou o cobertor e adormeceu.